Nesta manhã de 20 de setembro, eu acordei me perguntando por muitas coisas que o tempo levou, a data sempre meche com meus fantasmas adormecidos, minha alma se pilcha e meu peito corcoveia qual pingo mal domado e eu me sinto como se estivesse mascando o freio indócil no partidor como no dia de carreirada, mas me paro basbaqueada sem saber o que fazer, entre o que fazer e o que não fazer???? Quando adquirimos uma certa maturidade, chegam os filhos, com eles todo o nosso tempo dedicamos corpo e alma a seu crescimento e educação, para que sejam cidadãos honrados e solidários diante da vida, depois de alguns anos, somos domados pelos netos eles nos botam cabresto e ficamos muito dóceis nos levam aonde querem. Foi então que coloquei o traje da dona Mariquinha, amarrei um lenço na cabeça, bombacha e alpargata e fiquei lambendo cria o dia inteiro, pois tinha duas netas para cuidar, e isto era melhor que o desfile que outrora me tirava fora do eixo de tanta felicidade. E esta preocupação aumentou com o passar do dia, até por que eu ouvia as pessoas comentavam fulana esta muito velha, tem mais que sossegar o que quer!!! e eu cá comigo dizia que gente pobre, vazia, ser velho é não ser mais dona de sua vida é não poder viver com intensidade tudo o que gostamos, ser velho somente fazer o que os outros desejam, e que dele as tuas vontades, ai entra em cena os conformistas e dizem abençoados quem tem alguém para cuidar e eis que a minha preocupação aumentou.....estou muito preocupada com o tempo que a vida me resta, e as vezes me pego a pensar no que realmente vale a pena, e resolvi ler os versos de Mário de Andrade, e acabei concordando com tudo o que ele escreveu, e passo para vocês...Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquela menina que recebeu uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade! O essencial faz a vida valer à pena. E para mim, basta o essencial! Talvez até seja cuidar de netos, como nossas mães o fizeram... estou pensando... e tenho pressa porque a vida tudo apaga até a nossa memória.... será que devo escrever um diário, ou um livro de vivências... para que as coisas não se percam neste balanço maluco da vida.... pois ao me despedir desta vida, não queria ser como “Pedro Ninguém”
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